Estudando Magia #1: Como Começar

por Luis Trindade
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É muito comum que, ao descobrir que Magia não é apenas obra de ficção e que existem variadas escolas ocultistas, muitas pessoas ficam extremamente empolgadas. No entanto, muitas vezes ainda confundem o verdadeiro estudo de Magia com os contos de fada, filmes, séries de TV, etc. Querem logo levitar, voar, arremessar coisas com a mente, lançar feitiços, falar com espíritos, disparar raios mortais pelas mãos ou pela ponta de uma varinha mágica, ver o futuro, e muitas outras coisas.

O que muita gente não leva em conta é que estudar magia exige um rigoroso treino da mente, e é nisso que vamos focar aqui, ainda que de maneira breve. Segundo o mago Aleister Crowley, “Magia é a Ciência e a Arte de Provocar Mudanças em Conformidade com a Vontade.” E o que é a Vontade senão ter um objetivo firme traçado em sua consciência e torná-lo realidade? Assim, também podemos citar a definição de outra importante magista, H.P. Blavatsky:

“Ela (a Magia) é a arte de utilizar conscientemente os poderes invisíveis (espirituais) para produzir efeitos visíveis.”

Helena Blavatsky

Ou seja, podemos enxergar a importância da consciência no estudo da magia. Uma mente bem treinada resulta em inúmeros benefícios: diminuição do estresse, comportamento menos reativo e mais produtivo, maior foco nos objetivos, paz, harmonia, entre outras centenas de outros efeitos benéficos. Pode resultar até mesmo em menos chance de contrair doenças: como é dito na medicina oriental, a grande maioria das doenças são projetadas primeiro no corpo mental, só então manifestando-se no corpo físico após um determinado período (caso medidas preventivas não sejam tomadas).

Franz Bardon

Sendo a mente a esfera mais alta de consciência a qual o ser humano comum tem acesso, dominá-la é o primeiro passo para a prática da Magia. É necessário, independente de qual das diversas linhas de estudo que este meio engloba, uma dedicação diária ao treino da mente. Estabelecer uma rotina detalhada e ter um diário de práticas é de grande ajuda para esta tarefa. Se não fosse pela adoção do diário mágicko, não teríamos acesso a muitas das obras ocultistas importantes hoje, como o Livro da LeiClavícula de Salomão, I Ching, etc.

A magia moderna tem muita influência de duas doutrinas místicas fundamentais: o Yoga e a Cabala. Franz Bardon, um importante ocultista alemão do século passado, escreveu em seu livro Magia Prática um dos melhores resumos para treino da mente, que pode ser verificado a seguir. Basicamente, os primeiros passos para adentrarmos no estudo da magia são:

1. Controle do pensamento.

A mente divina

Tempo do exercício: 5 a 10 minutos, duas vezes ao dia.
Período mínimo de prática: duas semanas.

“Controle do Pensamento duas vezes ao dia, durante cinco a dez minutos.”

Sente-se confortavelmente em uma cadeira ou sobre uma almofada no chão. Feche os olhos, respire e relaxe por alguns instantes. Deixe que os pensamentos aflorem naturalmente, sem se apegar a eles. Basicamente isso. No começo pode parecer difícil, mas o objetivo desse exercício é concentrar a mente no agora. Anote os resultados em seu diário de práticas, para acompanhar o seu progresso.

2. Disciplina do pensamento.

Tempo do exercício: 10 a 15 minutos, uma vez ao dia.
Período mínimo de prática: duas semanas.

“Não permitir que certos pensamentos aflorem. A fixação de um determinado pensamento escolhido pelo aprendiz. Constatação do vazio, da ausência de pensamentos.”

Esta prática é conhecida no Yoga como dharana, ou concentração. Podemos realizar esse experimento de forma simples, bastando apenas uma vela e um lugar reservado. Caso não possa usar uma vela natural, basta a concentração em um ponto, que pode ser desenhado ou colado em uma parede branca. Esse vai ser o foco da concentração. Sente-se confortavelmente em uma cadeira ou sobre uma almofada no chão. Feche os olhos, respire e relaxe por alguns instantes. Então abra os olhos e foque a sua atenção na chama da vela ou no ponto. Mantenha sua concentração no ponto escolhido e esvazie a mente de todo pensamento. Quando a mente está totalmente focada em um ponto, abstraímos o ambiente ao nosso redor.

O objetivo aqui é abstrair os pensamentos, focando apenas no alvo escolhido, sem se deixar perturbar por pensamentos adicionais. Uma prática comum no Yoga é utilizar o japamala, um colar de contas feito com ossos ou sementes, para contabilizar eventuais divagações mentais que possam surgir durante o exercício.

3. Domínio do pensamento

Tempo do exercício: 15 a 20 minutos, uma vez ao dia.
Período mínimo de prática: duas semanas.

“Adoção de um diário mágico. Autocrítica. Planejamento de processos de pensamento para o dia seguinte ou a semana seguinte.”

Esta prática é conhecida no Yoga como dhyana, ou foco contínuo. É uma evolução do exercício anterior. Sente-se confortavelmente em uma cadeira ou sobre uma almofada no chão. Feche os olhos, respire e relaxe por alguns instantes. Então, abstraia totalmente os pensamentos, esvaziando a mente. No começo, algum ou outro pensamento irá surgir, voltando para dharana, mas com o tempo conseguirá manter a mente vazia por alguns segundos e até minutos. O sucesso nessa prática consiste em manter a mente vazia por dez minutos.

Anote os resultados e impressões sobre esse exercício em seu diário. Um senso de autocrítica deve ser constante, pois só assim haverá progresso. Elabore o seu cronograma de práticas para o dia seguinte ou semana seguinte ao finalizar cada prática de domínio do pensamento.

Em resumo…

Verifica-se dessa forma a importância que é dada ao planejamento e registro de todo o processo, bem como a necessidade da autocrítica quanto ao próprio progresso.

Este foi um resumo sobre a importância do treinamento da mente e sua prática. No próximo artigo dessa série, iremos falar sobre a ação dos elementos no temperamento humano e como equilibrá-los.
Até mais!

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