Pouco se fala sobre grandes personalidades do passado que discursavam em prol da causa animal. Porfírio, um renomado filósofo neoplatônico, escreveu no século III o clássico texto On the Abstinence of Eating Animals (algo traduzido como Sobre Não Comer Animais), uma defesa eloquente e profunda sobre a prática de abster-se de consumir carne. Este tratado, dividido em diversos argumentos filosóficos, religiosos e éticos, explora a relação entre humanos, animais e deuses, propondo uma vida mais harmoniosa e justa.
Filosofia e Ética
Porfírio argumenta que a abstinência de carne é particularmente recomendada para filósofos e aqueles que buscam a felicidade através da imitação dos deuses. Ele enfatiza que a justiça deve ser estendida a todos os seres sensíveis e racionais, não apenas aos humanos. Segundo ele, ao consumir carne, estamos ignorando a conexão intrínseca que temos com todos os seres vivos.
Vários filósofos são citados ao longo do texto:
- Pitágoras é destacado por sua filosofia que valoriza a purificação da alma e a harmonia com o cosmos. Ele é conhecido por sua defesa da abstinência de carne como um caminho para a pureza espiritual.
- Empédocles, outro filósofo pré-socrático, também é mencionado por sua advocacia à não violência contra os animais e a pureza da alma.
- Epicuro e seus seguidores são citados como exemplos de frugalidade, embora não fossem estritamente abstêmios em relação ao consumo de carne, eles valorizavam uma dieta simples.
Religião e Sacrifícios
Porfírio explora a prática dos sacrifícios animais e sua relação com a religião, argumentando que a necessidade de sacrificar animais aos deuses não justifica o consumo de carne pelos humanos. Ele menciona que certos deuses e práticas religiosas não apoiam necessariamente a matança de animais para alimentação.
Deuses importantes mencionados incluem:
- Apolo, conhecido como o “matador de lobos” (λυκοκτονος), representa a proteção contra animais selvagens, mas isso não implica que o consumo de carne seja necessário.
- Diana, a deusa caçadora (θηροκτονος), simboliza a destruição de animais selvagens, mas novamente, sem conexão com o consumo humano de carne.
Porfírio também discute práticas religiosas específicas, como a veneração dos animais pelos egípcios, que viam os animais como receptáculos das almas e representações dos deuses. Ele menciona os judeus, que sacrificavam animais sem consumi-los, demonstrando um respeito distinto pela vida animal.
Saúde e Corpo
Além dos argumentos filosóficos e religiosos, Porfírio discute os benefícios de uma dieta sem carne para a saúde física e mental. Ele argumenta que uma alimentação simples contribui para a paz de espírito e a pureza do corpo, aspectos essenciais para a prática filosófica. Ele exemplifica com casos de cura, como o uso medicinal de víboras, destacando que alguns animais possuem propriedades curativas, mas isso não justifica o consumo regular de carne.

A Imitação da Forma Divina
Porfírio conclui que a abstinência de carne está alinhada com a pureza, a justiça e a verdadeira devoção aos deuses. Ele defende que uma vida dedicada à filosofia e à imitação dos deuses deve ser vivida em harmonia com todas as formas de vida, promovendo a paz e a justiça universal.
Sobre Não Comer Animais de Porfírio vai além de uma simples prática dietética. É uma filosofia de vida ética e espiritual que busca promover a harmonia entre todos os seres vivos, propondo um caminho de justiça e pureza que se reflete na nossa relação com o mundo ao nosso redor.